"Ele Estava Muito Entusiasmado"
André Ventura estava radiante. Quando se aproximava do púlpito disse aos jornalistas que “ainda” não falou “com ninguém”. “A partir de amanhã temos todas as condições para construir um governo de direita em Portugal. O Chega e o PSD têm maioria absoluta nestas eleições, só um ato de irresponsabilidade poderá afastar uma solução de governo”, referiu, antes de se dirigir aos seus apoiantes, explicando que se for preciso tomará “a iniciativa de falar com Luís Montenegro”. Confrontado com o “não é não” de Montenegro, Ventura reagiu: “O país disse: ‘Sim é sim.'”
Em frente aos seus apoiantes, André Ventura começou por dizer que “esta noite ficará na história de Portugal” por uma razão: “Há um dado de que já temos a certeza: esta é a noite em que acabou o bipartidarismo em Portugal. À hora a que falamos, não sabemos quem vai ser o governo de Portugal, mas a História já fez a sua escolha: o Chega ultrapassou um milhão de votos em Portugal.” (do jornal Novo hoje 11 de Março)
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A 6 de março, num jantar-comício nas Caldas da Raínha, o líder do PSD e futuro primeiro-ministro fez o seu melhor discurso da campanha. Nessa noite, porventura inspirado pela melhor versão de Paulo Portas, Montenegro decidiu, precisamente, falar diretamente para os eleitores do Chega. Falou em “respeito” e “compreensão” e disse perceber a “revolta” de muitos. “Sei que não são extremistas, racistas e xenófobos. E também sei que acham que o líder deste partido não vai resolver nada e que o programa deste partido não vai trazer soluções. É tempo de reponderarem”, pediu o social-democrata.
Não só não responderaram como houve ainda mais gente a premiar Ventura. Mas, até prova em contrário, parece ser esse o único caminho: respeitar e compreender esses eleitores, falar para eles e encontrar respostas moderadas e eficazes para problemas e anseios que são necessariamente complexos e difíceis de resolver.
Manifestamente, o que tem sido feito até aqui não está a dar resultado. Primeiro, ridicularizaram Ventura. Depois, disseram que era um problema da direita. A seguir, exigiram cordões sanitários. Por fim, trataram-no como um pária. Gritaram contra os pretensos fascistas e acordaram com 48 deputados do Chega. Pode ser que agora percebam que a força de Ventura está nos eleitores e que os eleitores não se conquistam com palavras vãs sobre os valores de Abril; conquistam-se com autoridade moral, soluções concretas e esperança.
Miguel Santos Carrapatoso no Observador
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