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Vaticano: singularidades do único Estado sem sociedade
Anote-se que o Papa Francisco dirige um Estado territorial centralizado como qualquer outro, sendo que a esquerda não resiste em tomar de assalto todos e quaisquer Estados. Todavia, o Estado do Vaticano possui duas características, uma singular e outra genérica.
A característica singular. Por alguma razão o Estado do Vaticano não possui uma sociedade com capacidade de autorreprodução no seu território, como qualquer povo ou sociedade. É um caso único em que Estado e Sociedade não coexistem. Nesse sentido, o Vaticano limita-se a ser um Estado-Instituição, distinto do Estado-Sociedade, filiado a espaços institucionais dispersos pelas sociedades do mundo que se chamam igrejas. Isso faz toda a diferença.
A característica genérica. Quem hoje dirige o Vaticano exibe uma limitação intelectual confrangedora de não distinguir a instituição (o espaço reservado aos seus membros, e uma instituição com mais de dois mil anos só fará sentido se for manifestamente conservadora) da sociedade (além da característica autorreprodutiva, o espaço aberto a todos independentemente das pertenças institucionais, sem limitações, onde tudo pode ser discutido, dissolvido, reinventado, alterado, criticado, rejeitado, incluindo instituições ou a existência de Deus, por aí fora).
Pelas razões referidas, o Estado do Vaticano é de todos na face da terra o que mais tem de funcionar circunscrito a limites institucionais, isto é, é o que mais deve preservar com cuidados especiais as fronteiras entre a instituição e a sociedade por todo o mundo. Não é de esperar da parte do Estado do Vaticano a ambição de estabelecer relações plenas, abertas, totais com as sociedades do mundo, posto que o Vaticano não é um Estado-Sociedade, apenas um Estado-Instituição.
Em contraste revolucionário com o pontificado de Bento XVI, a fragilidade do atual pontificado é precisamente a de ignorar que instituição e sociedade são o oposto uma da outra. Quando não se distinguem com clareza entre si, quando não vivem em tensão mútua, instituição e sociedade destroem-se uma à outra. Ao Papa Francisco, como a qualquer papa, compete evidenciar um poder institucional fortíssimo, poder que a prazo se fragiliza seriamente quando se transforma em poder social pleno. Essa será a herança pesada do atual pontificado. ( texto completo no link a seguir)
https://observador.pt/opiniao/francisco-no-fio-da-navalha-visao-do-interior-do-chega/
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Vivemos tempos em que o pasmo se torna rotina. Tomamos o pequeno-almoço com notícias que, não há muito, eram consideradas inverosímeis, política-ficção do pior gosto, que teria arruinado a carreira do mais reputado argumentista.
Professores com processos disciplinares por ensinar que o sexo é determinado por um par de cromossomas, contas de Twitter suspensas por referirem que a relva é verde, violadores condenados que dizem ser mulheres para os transferirem para uma prisão feminina onde violam umas quantas reclusas, estátuas de São Junípero Serra derrubadas por justiceiros descendentes dos puritanos que massacraram os indígenas norte-americanos, mulheres desportistas que veem o seu lugar nas Olimpíadas ocupado por concorrentes com genitália masculina, filmes inocentes desqualificados como se fossem abominações horrendas (agora até o Dumbo é politicamente incorreto!), palavras de sempre que, de um dia para o outro, se transformam em termos proibidos que podem arruinar a nossa carreira ou mesmo a nossa vida… Palavras canceladas. Estátuas canceladas. Livros cancelados e, até, pessoas canceladas. Tudo deve ajustar-se aos moldes do politicamente correto. A pergunta é óbvia: enlouquecemos todos?
( SINOPSE do livro Manual do Bom Cidadão de Jorge Soley)